Rede Leite mostra bom exemplo de sucessão rural em Boa Vista do Incra
Boa Vista do Incra, dá exemplo de como superar um dos maiores desafios do país, a falta de sucessores no campo. Na quarta-feira, 09, uma experiência concreta de sucessão motivou a visita ao município de um grupo formado por extensionistas da Emater/RS-Ascar, pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm). O encontro, realizado na propriedade da família Siqueira, no interior do município, foi promovido pelo Grupo Social da Rede Leite Programa em Rede de Pesquisa-desenvolvimento em Sistemas de Produção com Atividade Leiteira no Noroeste do Rio Grande do Sul.
“Agradeço de coração a visita de vocês”, disse o anfitrião, Elvio Siqueira. Do total de sete filhos do casal Elvio e Catarina, seis estão envolvidos com atividade agropecuária e três trabalham na propriedade dos pais. É gratificante porque a gente tocou um serviço que o pai começou, disse o caçula, Altair Siqueira, um dos irmãos responsáveis pela produção anual aproximada de 590 mil litros de leite.
O caso da família Siqueira serviu para ilustrar a tese da pesquisadora da Ufsm, a doutoranda em Extensão Rural, Aline Barasuol. Segundo ela, o jovem que tem uma experiência positiva no meio rural tende a permanecer no lugar. Ao contrário, se o sentimento for negativo, a tendência é se afastar, é negar o rural e aí, o jovem vai procurar algo positivo na cidade. O nosso discurso está vinculado ao que a gente sente, disse Aline.
O sociólogo da Embrapa Pecuária Sul (Bage/RS), Jorge SantAnna, enxergou na família Siqueira três fatores decisivos à sucessão rural: descentralização do poder paterno, interesse da família em aprender e inovar e apoio do governo. Primeiro houve uma vontade dos pais de que os filhos tocassem a propriedade, os pais não foram intolerantes.
Segundo, a produção leiteira exige intelecto, conhecimento e estes rapazes incorporaram isso e realizaram investimentos, o que fez com que a propriedade saltasse, em oito anos, de 72 mil litros ao ano para quase 600 mil litros, com um significado econômico. E houve uma interferência, um apoio, do governo federal, representado pela Embrapa, estadual, representado pelos extensionistas da Emater, e da prefeitura. É uma situação exemplar de uma família que recebeu apoio nas três instâncias do governo, apoiando para que a sucessão ocorresse de uma maneira bem sucedida, analisou o sociólogo da Embrapa.
Contudo, ponderou SantAnna, o Brasil ainda não inverteu o fluxo migratório, acentuado a partir da década de 1950: há mais gente saindo do que permanecendo no meio rural. Não é que o movimento de saída de jovens do meio rural tenha cessado, mas não tem mais tanta intensidade. Há um movimento de permanência, disse SantAnna.
Histórico
Na década de 1970, a construção da usina hidrelétrica Passo Real, em Salto do Jacuí, alagou a antiga propriedade da família Siqueira. Os agricultores foram reassentados pelo governo em Boa Vista do Incra. No município, Élvio e Catarina se casaram e tiveram sete filhos.
A produção de leite em escala comercial iniciou em 1996, na época o plantel leiteiro não passava de 12 animais e a produção chegava a 44 mil litros ao ano.
Em meio a uma crise com a falta de pasto para o rebanho a família Siqueira recebeu a visita de um extensionista da Emater/RS-Ascar. Com uma trena, foicinha e balança, o extensionista mostrou aos agricultores como pesar e calcular a quantidade de pasto necessária para alimentar o rebanho. Ao invés de três, o cálculo feito pelos rapazes mostrou que seriam necessários, pelo menos, 30 piquetes. Sobrou boia, as vacas saíam do piquete de barriga cheia, lembrou Altair.
Em busca de mais informações, a família Siqueira ingressou na Rede Leite, em 2007. Desde então, a propriedade tem recebido a visita constante de pesquisadores, professores, extensionistas e administradores públicos.
Em duas décadas, os irmãos Siqueira adquiriram trator, resfriador, ordenhadeira e, mais recentemente, investiram em um estábulo para compostagem (compost barn). Os investimentos em conhecimento técnico, produtividade e conforto dos animais tem por base uma cautelosa gestão financeira.
Começamos tirando leite num banquinho feito de cepo de madeira, enfrentamos o barro e hoje estamos com o sistema de confinamento das vacas, resumiu o jovem Altair Siqueira.
Também participaram do encontro os secretários municipais de Agricultura e Administração, Marcos Maciel e Maurício Colvero, respectivamente, assistente técnica regional Social Isabel Robaert de Souza, e o supervisor interino da microrregião da Emater/RS-Ascar de Cruz Alta, Abel Toquetto.
Foto: Emater