Meteoro com cerca de 3 toneladas deixa fragmentos no solo do RS, dizem especialistas
Os fenômenos vistos no céu em várias cidades do Rio Grande do Sul, na noite do dia 6 de junho, foram causados por um meteoro de aproximadamente 3 toneladas, conforme estudos de pesquisadores da Brazilian Meteor Observation Network (Bramon). A instituição ainda relatou que cerca de 10% dessa massa resistiu à passagem atmosférica e atingiu o solo entre os municípios de Jari e Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul.
No mapa acima é possível ver a área de dispersão dos meteoritos, conforme os estudos dos especialistas. A área mais avermelhada indica onde podem ser localizados os maiores fragmentos. Na área amarelada, podem ser localizados os menores fragmentos, mas estes devem ser mais numerosos.
“O bólido foi muito mais longo e duradouro, iniciando sua visibilidade a 104 km de altitude, ainda sobre o Paraguai. Durante 27,5 segundos, ele cruzou 393 km de atmosfera passando pela Argentina e cruzando o Noroeste Gaúcho a cerca de 14,3 km/s (51,6 mil Km/h) até desaparecer a 27,4 km de altitude sobre a zona rural do município de Jari, no Rio Grande do Sul”, relata o diretor técnico da Bramon, Marcelo Zurita, no site da instituição.
Segundo o pós-doutor em Engenharia e diretor científico da Bramon, professor Carlos Fernando Jung, quando o objeto está em órbita é um meteoroide, quando ele entra na atmosfera e inicia a queima é chamado de meteoro, e quando chega ao solo e pode ser tocado se denomina meteorito.
Como fragmentos da rocha espacial resistiu à passagem atmosférica e chegaram ao solo, os especialistas acreditam que meteoritos caíram desde a zona rural de Jari até as imediações de Santa Maria.
“Os meteoritos têm grande valor para a ciência, pois podem trazer consigo informações importantes para explicar o processo de formação do sistema solar ou até mesmo do surgimento da vida na Terra”, informa Zurita.
Conforme a Bramon, devido à sua altíssima velocidade, o meteoroide enfrenta uma enorme resistência atmosférica, e com isso, geralmente se parte em inúmeros fragmentos de vários tamanhos.
“Os fragmentos menores perdem rapidamente a velocidade e estão mais sujeitos aos ventos das várias camadas atmosféricas. Já os fragmentos maiores têm mais inércia e, com isso, sofrem menos desvios pelos ventos e tendem a seguir uma trajetória aproximadamente parabólica até o solo”, acrescenta Zurita.
Segundo os especialistas, além de grande valor para a ciência, os meteoritos têm também valor comercial. Museus, colecionadores e cientistas do mundo todo pagam bons valores para ter um pedacinho de rocha espacial para seus estudos científicos ou apenas para enriquecer sua coleção.
A Bramon informou que, geralmente, meteoritos oriundos de uma queda recente têm valor entre US$ 5 e US$ 10 por grama. Mas o valor pode aumentar ou diminuir dependendo do tipo de meteorito e da quantidade encontrada.
Como encontrar meteoritos
A Bramon informou que pessoas que moram nessas regiões do mapa podem achar fragmentos do meteorito. Segundo os pesquisadores, é importante saber como identificá-los e também o que fazer caso encontre um.
Uma dica dos pesquisadores é prender um imã forte na ponta de um cabo de vassoura, e envolver o imã com um saco plástico, para facilitar a retirada dos fragmentos que aderirem.
Características de um meteorito:
- Meteoritos são normalmente mais densos que rochas terrestres. Meteoritos rochosos devem parecer um pouco mais pesado que uma rocha comum, e os metálicos, muito mais pesados
- A parte externa de um meteorito é escura e tem aspecto fosco devido ao intenso calor que ele esteve exposto durante sua passagem atmosférica
- Quase todos os meteoritos são atraídos por imãs, pois geralmente possuem ferro e níquel em sua composição
- Maioria dos meteoritos apresentam interior claro com cor semelhante ao cimento, sem bolhas e aparentando ser composto de pequenas esferas em diferentes tons de cinza. Nos meteoritos metálicos, o interior tem aspecto semelhante ao aço inox
- Meteoritos metálicos podem possuir remaglitos, que são depressões semelhantes a marcas de dedo. A crosta de fusão é mais brilhante que os meteoritos rochosos
O que fazer se encontrar um meteorito
- Filme, fotografe e grave um relato informando data, hora e local onde foi encontrado o meteorito. Se possível, faça isso antes mesmo de retirar ele do solo.
- Registre no GPS ou no aplicativo de GPS do celular as coordenadas de onde ele foi encontrado. Além de valorizar a peça, pode ajudar a refinar a área de busca de novos fragmentos. Se não tiver como fazer isso na hora, marque bem o local onde encontrou para poder fazer isso mais tarde.
- Não lave – mantenha a peça longe de água. Limpe apenas com um pincel e guarde em um recipiente livre de umidade.
- Caso tenha encontrado o meteorito em uma propriedade privada, informe o proprietário. Legalmente ele é o dono do meteorito, então os especialistas sugerem que seja acordado com o proprietário um pagamento justo pelos objetos.
A Bramon divulga o e-mail bramonmeteor@gmail.com, para onde as pessoas podem enviar fotos, vídeos e dados registrados. Os especialistas irão analisar e confirmar se é ou não um meteorito.
Caso seja confirmado que a peça se trata de um meteorito, um pedaço pode ser enviado ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, para que ela seja analisada e, se for o caso, certificada pela professora Elizabeth Zucolotto, maior autoridade brasileira em meteoritos.
Outros meteoros no RS
Há menos de duas semanas, um meteoro foi visto no céu no estado. Jung fez o registro do fenômeno na cidade de Taquara. Segundo o professor, o meteoro foi extinto a 24,68 km de altitude sobre o RS.
Em abril, um caso parecido ocorreu em algumas cidades do estado gaúcho e em Santa Catarina. O bólido entrou na atmosfera a 122,2 mil km/h, e começou a perder força. Segundo Jung, o meteoro foi extinto a 36 km de altitude, sem causar qualquer dano.
Segundo Jung, bólido são meteoros que possuem uma magnitude igual ou superior a -4, forma de uma “bola”, daí vem o nome popular de “bola de fogo”, explica o professor.
Bólidos podem ser seguidos de explosões ou explodirem no final. “Diariamente, a terra é bombardeada por meteoros, que entram aqui, são atraídos pela gravidade da Terra. É uma coisa comum. Durante o dia e a noite, não tem hora, nem lugar para acontecer. Mas não é normal a gente fazer um registro dessas proporções”, explica o professor.