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Violência

Violência doméstica custa R$ 1 bilhão ao ano no mercado de trabalho do País

Violência doméstica custa R$ 1 bilhão ao ano no mercado de trabalho do País
27.09.2018 10h16  /  Postado por: Magali Drachler

Elas chegam em silêncio. Outras vezes, com falas aleatórias e desconexas. Em geral, demoram algumas horas até ter condições de dar um depoimento. Além dos traumas físicos e psicológicos, mulheres vítimas de violência doméstica têm a vida profissional profundamente abalada e, não raro, interrompida. Muitas pedem licença ou se veem obrigadas a abandonar o trabalho.

Pela primeira vez, esse impacto foi medido por uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará. Segundo o estudo, estima-se que a violência doméstica custe cerca de R$ 1 bilhão por ano ao mercado do trabalho nacional. O cálculo é baseado no índice de absenteísmo: o número de mulheres violentadas que tem de faltar no emprego.

As ausências ocorrem tanto em decorrência das licenças médicas e tratamentos quanto em função do abalo psicológico que enfrentam após uma agressão. “Os dias podem se tornar semanas quando elas sofrem violência sexual. Elas perdem a capacidade de produzir e de se relacionar com as pessoas”, diz Daciane Barreto, coordenadora da Casa da Mulher Brasileira do Estado do Ceará. O espaço atende por dia 38 vítimas de violência doméstica.

O estudo, inicialmente realizado nos estados do Nordeste, entrevistou 10.518 mulheres no ano passado. Dessas, 30% declararam terem sofrido algum tipo de violência: emocional, física ou sexual. Em 2016, 10.094 mulheres foram entrevistadas e 29,3% desse total afirmaram terem sido vítimas de violência. “Uma mulher perde em média 18 dias de trabalho após sofrer violência doméstica”, afirma Victor Hugo de Oliveira Silva, analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisas e Estratégia Econômica do Ceará.

A pesquisa levou em consideração o valor da hora trabalhada por mulheres e utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ( para estimar o efeito das faltas no trabalho nos demais estados do País. “Isso demonstra a influência da violência doméstica na economia”, diz Silva. “Estamos considerando só o impacto no mercado de trabalho, sem contabilizar o custo para o sistema de saúde e demais gastos.”

Para o pesquisador, trata-se de uma riqueza que deixa de ser gerada. “A renda que essas mulheres deixam de ganhar poderia movimentar diversos setores.” Segundo ele, é possível estimar que a violência doméstica tenha um impacto de 5% no Produto Interno Bruto do País.

Afastadas da sociedade

No início de setembro, Janaína*, 20 anos, chegou debilitada ao Centro da Mulher Brasileira. “Ela foi espancada pelo agressor. Quando chegou aqui começou a passar mal, o abdômen estava rígido de tanto apanhar e os olhos fixos”, relatou Daciane. “Ela não conseguia prestar o depoimento.”

Foram cinco dias de internação em função de uma hemorragia interna. “Depois de uma semana, ela voltou para fazer o boletim de ocorrência”, diz a coordenadora da casa de apoio. “Hoje ela ainda está sem trabalhar por conta dos traumas. Segundo Daciane, é comum mulheres vítimas de violência, inclusive gestantes, chegaram enfaixadas e com partes do corpo quebradas. “Elas precisam ficar um longo período afastadas do trabalho até se recuperarem física e emocionalmente.”

Na última quarta-feira, Júlia* esteve na casa de atendimento às vítimas de agressão à mulher e relatou que teve de se ausentar do emprego por pelo menos cinco dias. “Ela saiu do local de trabalho e o agressor esperou por ela e torceu seu braço”, diz a coordenadora. “Ela teve de ir ao hospital, pegou atestado, voltou para fazer boletim de ocorrência e a delegada a encaminhou para fazer o exame de corpo de delito para dar continuidade ao processo.”

As Casas da Mulher Brasileira são espaços em que estão presente todos os órgãos de apoio à vítima de violência. Hoje, existem seis unidades em funcionamento no Mato Grosso do Sul, Paraná, Maranhão, Roraima, Brasília e Ceará, que fazem parte do programa “Mulher, Viver Sem Violência”, criado pelo governo federal.

 

Fonte: Correio do Povo

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