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Saúde

Surto de toxoplasmose em Santa Maria é o maior no mundo

Surto de toxoplasmose em Santa Maria é o maior no mundo
28.05.2018 11h01  /  Postado por: Redação

Os olhares continuam atentos e voltados a Santa Maria, que há quase dois meses vive um surto misterioso e inédito. Com o aumento do número de pessoas com toxoplasmose, a cidade registra o maior número de casos do mundo. A cada boletim divulgado pelos órgãos da saúde, a apreensão parece aumentar: é que a origem da doença ainda não foi descoberta, e pode ser que não seja. Mesmo assim, as medidas de prevenção continuam sendo a melhor alternativa contra novos casos.

Conforme o boletim divulgado na noite da última sexta-feira, são 460 casos confirmados por exames de contraprova do Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen-RS), sendo 35 gestantes. Outros 766 estão sendo investigados. Até agora, dois fetos morreram e duas gestantes sofreram aborto em decorrência da doença.

De acordo com o documento, o município contabiliza 1.116 casos notificados. Isso quer dizer que essa quantidade de pessoas apresentou os sintomas de síndrome febril (febre, dor de cabeça e no corpo, falta de apetite e aparecimento de ínguas na cabeça e no pescoço). O boletim apresenta, ainda, 140 casos que foram descartados para a doença, entre eles um aborto e 32 casos de gestantes, 166 seguem em investigação.

PERFIL DO SURTO
Os casos confirmados são, na maioria, do sexo feminino (301 pessoas), representando 65,4%, a faixa etária está entre 20 a 39 anos. Os bairros com os maiores números de casos são: Tancredo Neves, com 103 pessoas, representando 22,4%, seguido dos bairros Parque Pinheiro Machado com (com 51 pessoas) e Urlândia (44).

BAIRROS

  • Boi Morto – 12 pessoas (2,6%)
  • Bonfim – 2 (0,4%)
  • Camobi – 16 (3,5%)
  • Carolina – 2 (0,4%)
  • Caturrita – 5 (1,1%)
  • Centro – 33 (7,2%)
  • Cerrito – 9 (2,0%)
  • Chácara das Flores – 4 (0,9%)
  • Diácono João LuiPozzobon – 5 (1,1%)
  • Divina Providência – 12 (2,6%)
  • Dom Antônio Reis – 4 (0,9%)
  • Duque de Caxias – 2 (0,4%)
  • Itararé – 4 (0,9%)
  • Juscelino Kubitscheck – 38 (8,3%)
  • Lorenzi – 9 (2,0%)
  • Noal – 8 (1,7%)
  • Nonoai – 1 (0,2%)
  • Nossa Senhora das Dores – 5 (1,1%)
  • Nossa Senhora de Fátima – 3 (0,7 %)
  • Nossa Senhora de Lourdes – 9 (2,0%)
  • Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – 2 (0,4%)
  • Nossa Senhora do Rosário – 1 (0,2%)
  • Nossa Senhora Medianeira – 10 (2,2%)
  • Nova Santa Marta – 18 (3,9%)
  • Parque Pinheiro Machado – 51 (11,1%)
  • Passo D’Areia – 12 (2,6%)
  • Patronato – 9 (2,0%)
  • Presidente João Goulart – 5 (1,1%)
  • Salgado Filho – 7 (1,5%)
  • São João – 4 (0,9%)
  • São José – 1 (0,2%)
  • Tancredo Neves – 103 (22,4%)
  • Tomazetti – 6 (1,3%)
  • Uglione – 4 (0,9%)
  • Urlândia – 44 (9,6%)

O QUE DIZ O BOLETIM

  • Até agora, 1.116 casos foram notificados pelos médicos das redes pública e privada à Superintendência de Vigilância em Saúde
  • Desses, 766 são suspeitos, e 350 ainda não foram classificados
  • Entre os casos suspeitos, 460 foram confirmados com toxoplasmose pelo Lacen-RS
  • 35 são de gestantes
  • 140 casos foram descartados
  • 166 ocorrências estão em investigação, sendo 82 de gestantes
  • A causa da morte de dois fetos (de 28 e 36 semanas) foi confirmada por toxoplasmose, assim como dois abortos (com 14 e 15 semanas de gestação)
  • Um caso de aborto (16 semanas) segue em investigação
  • A causa de um aborto (21 semanas) foi descartada como sendo por toxoplasmose

O PANORAMA
Confirma as variáveis divididas entre os 460 casos confirmados pelo Laboratório de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (LACEN-RS):

  • SEXO
  • Masculino – 159 pessoas (34,6%)
  • Feminino – 301 pessoas (65,4%)
  • Gestantes – 35 pessoas (7,6%)
  • FAIXA ETÁRIA
  • menores de 1 ano – 2 (0,4%)
  • de 1 a 4 anos – 3 (0,7%)
  • 5 a 9 anos – 4 (0,9%)
  • 10 a 19 anos – 40 (8,7%)
  • 20 a 39 anos – 218 (47,4%)
  • 40 a 59 anos – 80 (17,4%)
  • 60 e mais – 49 (10,7%)
  • Não informado – 64 (13,9%)

PREVENÇÃO
Para conhecer melhor os hábitos das pessoas que estão com toxoplamose, as Vigilâncias em Saúde do Estado e do município atuam em conjunto com os profissionais do Ministério da Saúde, aplicando um questionário para quem foi diagnosticado com a doença e os casos suspeitos. Os profissionais pretendem descobrir se as pessoas ingeriram algo em comum que possa ser a fonte de contaminação.

Os dados vão ser colocados no aplicativo desenvolvido pelo Laboratório de Geomática da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para fazer o georreferenciamento. Segundo o delegado da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, Roberto Schorn, não há mudanças no protocolo de investigação.

– A equipe do escritório no Brasil, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), aprovou o protocolo e disse que não há motivo para fazer alterações – pondera Schorn.

DOENÇA NO PARANÁ FOI PROVOCADA PELA ÁGUA
O maior surto de epidemia do mundo havia sido registrado na cidade de Santa Isabel do Ivaí (PR), com 426 casos. A epidemia local foi provocada por contaminação no sistema de abastecimento de água. Alguns gatos (hospedeiros do protozoário que causa a doença) tinham um ninho na estação de tratamento.

Veterinários da Universidade Estadual de Londrina constataram que os animais tinham o protozoário. Segundo o médico oftalmologista e um dos pesquisadores que ajudou a descobrir a origem da doença no Paraná, Cláudio Alberto Magalhães Silveira, da Escola Paulista de Medicina (SP), em menos de dois meses a causa foi descoberta.

– A gente também não estava descobrindo. Como a primeira suspeita é a água, e ela vai embora, fica um pouco mais complicado. Era final do ano e como as escolas estavam em férias, elas serviram de referência para se descobrir a origem nas caixas d’água – explica Silveira.

O médico foi convidado para vir a Santa Maria para ajudar nos exames oculares e de sangue. Uma das lições que o município deve aprender com o surto, segundo o médico, é que a companhia que fornece a água deve avaliar o tamanho dos filtros, além das medidas de prevenção.

O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
“No momento, não podemos descartar nada, nem água e alimento, a gente tem sustentado a importância da prevenção. O que dá para a gente perceber claramente é que a maioria absoluta daqueles casos suspeitos, estão sendo confirmados. No início do surto houve um ruído de comunicação, muito ruim para cidade, mas agora eu estou muito feliz pela grande unidade que foi construída e pela equipe de investigação. Agora, estamos aguardando os medicamentos, se não vier a gente vai ingressar com uma Ação Judicial, até quarta-feira vou aguarda a posição do Ministério da Saúde, porque a responsabilidade é da União quando existe uma epidemia. É claro que o aumento do caso do número de casos nos preocupa, mas ao mesmo tempo sabemos que a equipe está trabalhando unida.”
Jorge Pozzobom, prefeito de Santa Maria  

“Agora, a tendência é constatar o surto estatisticamente, o que tinha que acontecer já aconteceu, quem tinha que apresentar os sintomas já apresentou, pelo menos na emergência parece que os atendimentos diminuíram. Na minha opinião, numericamente é o maior surto do país e os números ainda vão aumentar mais um pouco. A gente, como gestão, conduzimos muito bem as coisas, o pessoal de fora que veio para cá, não fez nenhum questionamento de que deixamos de fazer alguma coisa. Com tudo isso, aprendizado é o que se tem que levar, eu acho que mudanças de cultura, de costumes de hábitos para uma cultura com mais higiene, para prevenção. É importante lembrar que a pessoa que tem febre alta não pode ficar em casa precisa procurar atendimento médico, não somente pelo fato da toxoplasmose.”
Paula Martinez, médica infectologista do município  

“Claro que a gente espera achar a fonte desse surto, estamos trabalhando e muito para isso. As pessoas precisam seguir com as medidas de prevenção, ao que tudo parece é o maior surto do mundo em número de casos. Nada é suficiente enquanto persistir o surto, tudo o que tiver que ser feito será feito, até o momento em que a gente chegar e perceber que não tem mais o que ser feito. Agora estamos cruzando os dados, se não acharmos a origem, queremos chegar mais perto da real causa e para isso não dá para estipular tempo. Pode ser que não se ache a causa, isso é bem possível e não há nada de anormal. A questão da prevenção é muito importante neste momento, Santa Maria está sendo uma escola.”
Roberto Schorn, delegado da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde  

“Eu não gosto de trabalhar com número, mas diria que é o maior surto do mundo, já passamos do surto do Paraná. Santa Maria aprende e aprende muito rápido, um exemplo foi a Kiss, o atendimento foi muito rápido e com a toxoplasmose as coisas também estão no mesmo caminho graças ao trabalho de todos. Nós temos uma opinião sobre a fonte que todo mundo sabe qual é, mas o que temos que trabalhar de forma transparente e resolver o problema, não é uma questão de culpabilidade, a gente tem que parar o surto. O fato de não encontrarmos a fonte, criamos um grande problema, mas independente disso, temos que criar um grande esforço para trabalhar tudo de forma unida para tornar tudo seguro, orientar todas as pessoas para seguir com as medidas de prevenção, temos que tratar tudo. Eu não sinto que o surto está descendo.”
Jane Costa, médica infectologista as informações são do Di´rio de Santa Maria.

Foto: Deise Fachin (Prefeitura de Santa Maria)/Divulgação.

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