Recuperação de solo da agricultura familiar custará R$ 9 bilhões
A perda de solo e seus nutrientes durante a enxurrada que assolou mais de 200 mil propriedades da agricultura familiar gaúcha, em maio deste ano, deverá afetar a produtividade das lavouras por um período estimado entre 10 e 20 anos, de acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS). Além do tempo, a recomposição da fertilidade em 3 milhões de hectares afetados exigirá um investimento de mais de R$ 9 bilhões. Os números foram divulgados nesta quinta-feira, dia 5, em coletiva de imprensa, em Porto Alegre.
“Ainda não há plano ou recurso especificamente para isso. Emergencialmente, para poder plantar já nesta safra, quem o fará certamente terá uma baixa produtividade, mas é o que produtor pode e precisa fazer”, afirma o presidente da Fetag, Carlos Joel.
Os R$ 9 bilhões estimados pelo engenheiro agrônomo Kalinton Prestes, do Departamento de Política Agrícola da Fetag, leva em conta apenas o valor para a reestruturação de 600 mil hectares devastados com maior intensidade, nas regiões Central e Sul do Estado.
“São necessários R$ 15 mil por hectare. Recuperar solo é algo extremamente caro. Esse investimento é para oferecer as condições ideais para que se recupere no período de 10 a 20 anos, com manejo, reestruturação, matéria orgânica e atividade biológica”, explica Prestes.
Outro problema que depende de tempo é a recuperação das matas ciliares, que dão sustentação ao solo no entorno dos rios e que reduzem o avanço da água em caso de novas cheias. Preocupações que o produtor acumula, ainda, com dívidas a pagar e possíveis mudanças no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). O programa poderá sofrer restrições na reposição de perdas aos produtores, a partir da próxima safra, alerta o presidente da Fetag.
De acordo com Carlos Joel, atualmente, a reposição é garantida pelo governo federal sem limitação. A proposta incluída no novo pacote orçamentário, no entanto, é de implantar uma cota fixa de R$ 7 bilhões. Assim, não haveria mais garantia de cobertura total ao produtor – que teria como alternativa o seguro rural.
“O problema é que as seguradoras estão fugindo do Estado. Um produtor familiar praticamente não consegue fazer o seguro, que no Estado fica acima da média, e isso vem se agravando de cinco anos para cá, em razão de secas e estiagens e, agora, após as enxurradas”, acrescenta Joel.
Entre os 206 mil produtores familiares atingidos pelas enchentes, cerca de 50 mil têm uma preocupação extra. O grupo, conforme a Fetag, optou por financiar a safra 2023/2024 com cerealistas e cooperativas e, em razão disso, ainda não tem garantia de receber, do governo federal, algum desconto ou apoio para quitar dívidas. O cenário também pode criar dificuldades às cooperativas. “Estamos com uma agenda em Brasília para tratar deste tema no dia 17”, diz o vice-presidente da Fetag, Eugênio Zanetti.