Nesta segunda feira, 2 de abril, celebra-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Para falar sobre o transtorno, participou do Repórter Geração, o psicólogo, Rodrigo Terras. Ele citou os diferentes graus de autismo, como é o diagnóstico e o que desencadeia o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
- O que é autismo?
Trata-se de um distúrbio que afeta o desenvolvimento da criança já nos três primeiros anos de vida, especialmente em determinados aspectos:
- Linguagem: o transtorno pode acarretar limitações na fala. Em casos extremos, os pequenos autistas não conseguem, de fato, progredir na comunicação verbal
- Interações sociais: o isolamento é uma característica que se manifesta frequentemente nesse grupo. Não raro, ocorre a dificuldade em estabelecer relações sociais, que geralmente se dão por meio de interações curtas.
- Variabilidade comportamental: os autistas exploram seus brinquedos de maneira restrita, focando apenas um detalhe ou uma função específica do objeto. Além disso, apresentam comportamentos repetitivos e autoestimulatórios, intolerância a mudanças na rotina ou na disposição do ambiente.
- Existem diferentes graus de autismo?
Algumas crianças manifestam sintomas mais brandos, enquanto em outras eles aparecem de maneira mais agressiva. Há casos em que há também uma associação com outras enfermidades, como deficiência mental, distúrbio alimentar, do sono ou transtorno obsessivo-compulsivo. Diante de tantas variáveis, fica difícil classificar os graus de autismo com precisão.
- Como é o diagnóstico? Como posso saber se meu bebê é autista?
Cabe a um psiquiatra ou neurologista infantil a tarefa de identificar o autismo com base em avaliações clínicas, a partir da observação do comportamento do pequeno e dos relatos familiares. Não existem testes laboratoriais capazes de apontar a alteração.
É por volta dos 3 anos de idade que as características do transtorno se tornam mais evidentes. Atualmente, alguns pesquisadores tentam identificar sinais precoces em bebês, antes mesmo de completarem 1 ano de vida. Algumas características que fazem soar o alarme de risco são:
- O bebê não mantém o contato visual com quem fala com ele – muitas vezes, nem mesmo com a mãe durante a amamentação;
- Tentativas de brincadeiras, jogos ou mesmo vocalizações dos pais e familiares não costumam chamar a atenção da criança e a insistência chega a incomodá-la;
- A apatia e o isolamento nas relações sociais são típicos do problema. Frequentemente, a criança prefere ficar sozinha, focada em objetos luminosos, sonoros ou movimentos repetitivos;
- Irritabilidade excessiva, sem causa aparente, também requer atenção, assim como mudanças no comportamento alimentar – e recusa, vômitos recorrentes – e alterações de sono.
É importante ressaltar que esses sinais são apenas indicativos de que algo não vai bem com o seu bebê. Ao notar algum deles, a ordem é buscar o auxílio profissional.
- O que desencadeia o transtorno? Fatores hereditários, metabólicos ou o problema ocorre ao acaso?
Embora ainda não haja estudos conclusivos, sabe-se que existe um componente genético relacionado a essa desordem. Também se desconfia que o problema esteja relacionado a infecções virais contraídas pela mãe durante a gestação.
- O distúrbio é mais frequente em meninos ou meninas? Por quê?
O autismo é mais comum em meninos. A cada três ou quatro autistas, apenas um é do sexo feminino.
- Existe tratamento? Como funciona?
Sim. O tratamento pode envolver desde o controle com remédios até acompanhamento fonoaudiológico, psicológico e terapia ocupacional. O sucesso depende dos seguintes fatores:
- Idade do início da intervenção: quanto antes o tratamento começar, melhor será o prognóstico. Daí a importância de identificar os sinais de risco já nos bebês;
- Abordagem de tratamento adequada às características e limitações do paciente;
- Comprometimento da família durante esse processo;
- Rigor na adesão ao programa terapêutico que, em geral, dura pelo menos dois anos, com 40 horas semanais de acompanhamento profissional.
- Meu filho vai se desenvolver normalmente?
Não é possível prever. Os pais devem sempre se esforçar para identificar as potencialidades de seu filho, encorajando-o a enfrentar desafios como qualquer criança. Não é recomendado adotar uma postura superprotetora. Há casos de indivíduos que conseguiram uma boa evolução nas áreas cognitiva, afetiva, social e motora. Além disso, tiveram escolarização regular – com ou sem adaptação curricular – e obtiveram uma realização profissional.
- Como funciona o aprendizado de uma criança autista na escola?
Não há um padrão, mas os portadores da disfunção podem enfrentar entraves em certas disciplinas. Muitos conseguem acompanhar uma escolarização regular, sem adaptações. Outros necessitam de modificações curriculares devido à dificuldade de assimilar conteúdos inerentes a certas áreas de conhecimento, como matemática e português.
- Como uma criança autista se relaciona como com os pais? É carinhosa como as demais?
Apesar de não demonstrar afeto da mesma maneira que as outras crianças, isso não significa que o autista não ame seus pais. Ele simplesmente se expressa de maneira diferente. O convívio permite que a família aprenda a identificar essas manifestações peculiares de carinho.
- Qual a prevalência do autismo?
Nos Estados Unidos, a incidência é de um autista a cada 110 indivíduos. Já no Brasil, infelizmente, os estudos epidemiológicos não fornecem dados precisos, mas alguns apontam de um a cada 160.
Fontes:
Rodrigo Terras, psicólogo, com consultório na Avenida Pio XII, 2096, Salto do Jacuí. Cíntia Guilhardi, Claudia Romano e Leila Bagaiolo, psicólogas e diretoras do Grupo Gradual, instituição voltada para o tratamento e a inserção da criança autista na sociedade; Fernanda Braga de Araújo, psicóloga, psicanalista, diretora educacional da Trilha – Unidade de Integração, escola de educação dedicada ao ensino de crianças especiais, em São Paulo.
Ouça entrevista completa no player acima.
Central de Notícias – Geração