Programa Duas Safras quer aumentar em 40% a produção agropecuária gaúcha até 2030
O programa Duas Safras, uma realização conjunta da Farsul, Senar-RS, Embrapa, ABPA, Fecoagro/RS, Asgav e Federarroz, tem a meta de ampliar em 40% a produção agropecuária gaúcha, o que significaria um impacto no PIB do estado em torno de 7%, aproximadamente R$ 31,9 bi. O prazo estipulado para se chegar a esses números, é o ano 2030.
Em entrevista ao Repórter Geração, o Superintendente do Senar-RS, Eduardo Condoreli disse que o projeto é uma ação conjunta entre as entidades desde sua concepção até a execução. Segundo ele, todo trabalho consiste na análise das características de cada uma das regiões e o resultado não impactará apenas em aumento de produtividade, mas trará reflexos também no campo econômico e social do estado.
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O Rio Grande do Sul possui características diferentes dos demais estados brasileiros e particularidades climáticas e geográficas dentro do seu próprio território. Essa é a justificativa para que o trabalho seja dividido, respeitando essas diferenças para aproveitar ao máximo o seu potencial.
Atualmente a produção da safra de inverno do estado representa apenas 9% do tamanho da safra de verão. Enquanto isso, a pecuária gaúcha vem apresentando desempenho inferior em relação à média brasileira. Entre 1990 e 2019, a população do rebanho bovino teve queda de 0,5% ao ano, enquanto o país cresceu 1,3% a.a. Os abates aumentaram 0,9% a.a. frente ao país que teve 3,1%a.a. Para se ter uma ideia, Rondônia teve aumento médio de 7,6%a.a. do rebanho e 14,1% nos abates no mesmo período.
No caso dos suínos, o Rio Grande do Sul viu seu rebanho crescer, em média, 1,4% a.a., enquanto o Paraná registra alta de 2,3% a.a. e Santa Catarina, 2,9% a.a. Já em relação aos abates, o aumento foi de 5,4% a.a. no território gaúcho, 3,7% a.a. em Santa Catarina e 6% a.a. no Paraná. Nas aves, o rebanho do Rio Grande do Sul aumentou 2,36% a.a., na região Centro Oeste, Goiás avança com 6,8% a.a e MatoGrosso, 7,5% a.a. A grande oferta de milho na região favoreceu o crescimento da produção. Isso também influenciou no abate. Enquanto o Rio Grande do Sul aumentou seus números em 2,9%a.a. em média, Mato Grosso registrou elevação de 7,4% a.a. eGoiás 12,2% a.a. Esse cenário está interligado à produção agrícola.
A oferta atual de milho limita a ampliação dos rebanhos e, consequentemente, os abates. Ao mesmo tempo, o estado possui uma área ociosa no inverno que pode ser aproveitada para as culturas de inverno, havendo, portanto, espaço para o aumento de produção nas safras de verão e inverno.
O presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, lembrou que a ABPA procurou a Farsul preocupada com a escassez da oferta de milho para a ração animal no Rio Grande do Sul, obrigando a importação do produto e, consequentemente, o aumento dos custos e perda de renda do produtor. Isso deu início às conversas que resultaram no convite à Embrapa, que já vinha desenvolvendo pesquisas no uso do trigo e outras culturas de inverno para a substituição do milho na alimentação animal, principalmente para suínos e aves. “Nos últimos dez anos não crescemos mais por falta do cereal e nos sentimos desafiados. Pela logística, do centro oeste não virá mais. Ou nós resolvemos o problema no Rio Grande ou não teremos mais essas culturas. Podemos aumentar a produção de milho através da irrigação na metade sul. Nós temos que buscar a solução e hoje o Ministério Público Estadual, formado por pessoas altamente sensíveis, entenderam o problema e estão trabalhando pelas buscas de soluções. A solução é nossa, a solução é gaúcha e se conseguirmos daremos um grande salto”, garantiu.
Ele destacou as possibilidades existentes para o aumento da produção agrícola, mas lembrou que é preciso coragem. “Precisamos ousar, o Rio Grande do Sul precisa ousar. Temos que ter consciência do que nós significamos neste país continental. O Brasil já é hoje uma potência agrícola mundial. Estamos nos primeiros lugares em exportação de diversos produtos. Isso nos dá condições de nos credenciarmos para daqui 15 anos sermos a maior potência agrícola do mundo”, afirmou.
Para o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli, o programa Duas Safras é uma iniciativa de todo o estado. “O Rio Grande do Sul é berço da agropecuária do Brasil que mostra a capacidade de abastecer gôndolas do mundo inteiro com preservação do meio ambiente”, disse. Ele lembra que as possibilidades do programa são diversas. “Isso que nem falamos ainda da produção de etanol. Podemos abastecer mundo a fora, além dos animais que também se convertem em alimentação e ainda temos a energia”. Quanto ao futuro, ele lembra do crescimento populacional da China e Índia. “Só eles colocaram, em quatro meses, 70% da população do RS. Se há o medo da falta de cliente, ele está descartado pelos próximos 50 anos”, destacou.
O presidente do Conselho da ABPA, Francisco Turra, reforçou a necessidade da mudança do atual cenário. “Estou enjoado de ouvir notícia ruim. Como poderia calar se há dez anos éramos os primeiros em produção de aves, segundo de suínos no Brasil. Ruim para mim ouvir que Paraná lança a terceira safra, outros a quarta, e o Rio Grande do Sul, por coragem, lança agora a segunda safra, enquanto vejo que no mundo inteiro a demanda de alimento”, analisou.
O chefe-Geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, falou pelas quatro unidades participantes do programa (Trigo, Clima Temperado, Pecuária Sul e Suínos e Aves). Ele salientou o grau técnico do setor agropecuário do país. “A agricultura brasileira é movida a ciência. Não apenas temos a solução para duas safras, já demonstradas em parcerias. Mas já está em andamento a solução para uma terceira safra com forrageiras. Estas são as soluções postas, mas não executadas a campo. O Duas safras vai andar com todo esforço que a Embrapa puder cooperar nesse sentido”, garantiu.
O Secretário-Executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos, falou da necessidade do aumento da oferta de ração. “É um marco que nos dá esperança. Antes, o setor queria o projeto, hoje precisamos dele. Estamos fazendo uma demonstração de proatividade, união e evolução. Vamos trabalhar e interagir para o sucesso do duas safras para que não tenhamos o rótulo de um estado deficitário na produção de milho e possamos trabalhar com planejamento, tranquilidade e firmeza nos nossos negócios”, disse.
Para o diretor da Federarroz, Luiz Carlos Machado, o programa irá ajudar na diversificação das culturas, especialmente em regiões arrozeiras, aumentando as opções de investimentos. Também reforçou o fato de haver ganho para todos os envolvidos. O presidente da Fecoagro/RS, Paulo Pires, lembrou que por muito tempo a cultura do trigo não apresentava liquidez. “Com a entrada da proteína animal isso começou a ter outro viés. Hoje nós temos liquidez e essa liquidez nos remete a essa ousadia. Nós temos uma oportunidade extraordinária”, comemorou.
O economista-Chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, apresentou os principais impactos do programa na economia do Rio Grande do Sul. Ele comentou que a atual produção de inverno é insignificante e as oportunidades inúmeras. “Precisamos manter e promover nossa produção de proteína animal. O mundo não pode viver sem a agricultura brasileira. O cenário é favorável”, comentou ao apontar o crescimento nas importações mundiais de trigo nos últimos anos.
Segundo o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Cardoso, a carne bovina é o produto mais tradicional e reconhecido da agropecuária gaúcha. “No Duas Safras vamos promover a intensificação sustentável dos rebanhos de cria aumentando a lotação e a produção de terneiro pelo maior suporte/ha no verão por meio de tecnologias de cultivares de forrageiras e manejo de pastos. Além disso, a pecuária tem um papel fundamental nos sistemas integrados para a estabilidade da renda do produtor pelo seu menor risco, e na sustentabilidade pela rotação de culturas e ciclagem de nutrientes. Com a adoção de tecnologias já existentes e validadas, poderá haver o incremento de até um milhão de animais para reposição e engorde nas pastagens de inverno, e um incremento no PIB de 5 bilhões de reais/ano”, disse.
Conforme o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Roberto Pedroso de Oliveira, o Programa Duas Safras potencializará a transferência de tecnologias geradas pela Embrapa. “Com este Programa, espera-se difundir a tecnologia sulco-camalhão para centenas de milhares de hectares de terras baixas, aumentando significativamente a produção de soja e, principalmente, de milho do Rio Grande do Sul”, falou. Segundo Pedroso, a unidade de pesquisa faz parte do Programa em três linhas de estudo: cultivo de cereais de inverno em terras baixas com avaliação de manejo de animais sob pastoreio de forma alternada; avaliação do desempenho de trigo e o triticale em sistema sulco-camalhão; e avaliação de triticale, trigo, aveia e azevém com o uso da tecnologia de camalhões de base larga.
Conforme o chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Everton Luis Krabbe, o centro de pesquisas de Concórdia/SC vem conduzindo trabalhos que visam compreender a viabilidade técnica e econômica da produção de cereais de inverno no Sul do Brasil. “Resultados mostram que os cereais de inverno (trigo, triticale e cevada, por exemplo), pelo seu valor nutricional, qualificam-se como substitutos do milho na suinocultura e avicultura. Em termos nutricionais, os cereais de inverno têm maior teor de proteína bruta e aminoácidos essenciais que o milho. Em contrapartida, trigo, triticale e cevada apresentam menor energia para aves e suínos, em decorrência do elevado teor de fibra. O nível de substituição desses cereais em relação ao milho é dependente do cenário econômico em curso, mas em geral a substituição parte de uma faixa de 25% a 35% podendo chegar a 75% no caso de suínos; 50% a 65% (trigo e triticale, respectivamente) no caso de frangos e para poedeiras, visando a preservação da pigmentação de gemas, tem sido preconizado um limite máximo de 30% na dieta”.