Nova Base Curricular pode mudar o Enem e a formação de professores
Depois de ter a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental homologada em dezembro de 2017, o Ministério da Educação (MEC) investe no andamento da BNCC para o Ensino Médio. Na semana passada, a pasta entregou a última versão da base do Ensino Médio para análise do Conselho Nacional de Educação (CNE), que anunciou o uso de audiências públicas em todo o país para debater as propostas de mudança com a população. Mesmo assim, a BNCC do Ensino Médio deixa muitas dúvidas.
A diretora pedagógica da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Maria Tereza de Souza, explica que a BNCC é o documento que define os conhecimentos essenciais que todos os alunos da educação básica têm direito de aprender. Para isso, a base usará uma referência comum para todos os sistemas de ensino, o que busca promover a equidade educacional, segundo Maria Tereza.
Ela lembra que a BNCC do Ensino Médio ainda está em construção e é uma política de Estado e não de governo, elaborada de maneira democrática e colaborativa através de um processo iniciado em 2015.
Para o Ensino Médio, a diretora pedagógica explica que a organização curricular terá uma base comum, que vai compor 60% da grade curricular, e uma parte diversificada como um todo integrado, que será 40%. A parte diversificada será composta de uma formação que considere a diversidade e as características locais e especificidades regionais.
O currículo do Ensino Médio será organizado em áreas de conhecimento e suas tecnologias que visam o desenvolvimento de conhecimentos atitudes habilidades e a resolução de problemas em diferentes áreas do saber (veja quadro a seguir). O documento da BNCC do Ensino Médio na íntegra já está disponível.
DIVERGÊNCIA
Apesar da 8ª CRE apresentar a BNCC como algo positivo, o diretor geral do 2º Núcleo do Cpers Sindicato, Rafael Torres, diz que a elaboração da base perdeu o foco com o passar do tempo.
_ A grande crítica de quem faz a educação pública é que o caráter foi perdido depois do golpe que tirou a Dilma (Rousseff) do governo, porque nós tínhamos a ampla participação de segmentos da sociedade. Hoje nós temos, dentro de quem discute a base, um perfil bastante conservador que está transformando a educação em comércio _ avalia Torres.
O diretor do 2º núcleo afirma que homogeneizar desta forma o ensino, fará com que a produção de livros didáticos será monopolizada, pois “pode beneficiar uma empresa só, que venderá os livros para todo o país”.
Sobre a possibilidade de terem audiências públicas para debater a elaboração da BNCC do Ensino Médio, Torres diz que são para passar a ilusão de um sistema democrático, porque o governo só apresenta as diretrizes implementadas, sem abrir espaço verdadeiramente para debate. Ele reforça que não há possibilidade nenhuma dos profissionais de educação inserirem algo novo na BNCC e que o espaço aberto ao público é para diminuir as críticas ao público.
AS ÁREAS DE ESTUDO
Segundo a proposta da Base Nacional Comum Curricular, o Ensino Médio poderá ter como áreas:
- Linguagens e suas tecnologias
- Matemática e suas tecnologias
- Ciências da natureza e suas tecnologias
- Ciências humanas e sociais aplicadas
Fonte: 8ª CRE
MUDANÇAS NO ENEM E NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
No ato de entrega da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio, na última terça-feira, representantes da educação responderam algumas perguntas sobre o documento. Uma delas foi sobre quando a BNCC deve sair do papel. Quem respondeu foi o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Eduardo Deschamps, que explicou não ter um prazo definido. Ele disse que os conselheiros deverão se reunir, nesta semana, para definir o cronograma.
Outra dúvida foi em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O então ministro da Educação, José Mendonça Filho, respondeu que o Ministério da Educação (MEC) trabalha com a necessidade de futuras adaptações no exame. Contudo, qualquer alteração no Enem só deve ocorrer a partir de 2020, conforme Mendonça Filho, que deixou o cargo na última quinta-feira.
OUTRAS MUDANÇAS
Na apresentação, os representantes do MEC e do CNE explicaram que a BNCC não se trata de currículo escolar, mas sim de um documento que vai servir de referência nacional comum e obrigatória para a elaboração dos seus currículos e propostas pedagógicas. O currículo é definido em cada escola e as competências e habilidades previstas na BNCC devem preencher 60% da carga horária do ensino médio.
A princípio, nenhuma disciplina deixará de ser obrigatória, mas a base prevê que apenas matemática e língua portuguesa sejam disciplinas obrigatórias nos três anos da etapa final da educação básica. A regra, porém, não é nova. Apesar de os adultos de hoje terem tido aulas de química, história, geografia, biologia e física em todos os anos do ensino médio (ou do antigo colegial), essas matérias nunca tiveram seu ensino obrigatório por lei. A prevalência dessas aulas é, em parte, explicada pelos conteúdos exigidos nos vestibulares.
Assim como a BNCC pode levar alterações ao Enem, o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos, avalia que a implementação da base pode exigir investimento na formação de professores para que haja integração entre as disciplinas. Segundo ele, a mudança vai ter impacto nos currículos das licenciaturas. As informações são do Diário de Santa Maria.
Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)