Mortes de trânsito no Rio Grande do Sul caem 23% em seis anos
Seis anos depois de chegar ao mais alto patamar de letalidade de que se tem notícia, o trânsito gaúcho registra em 2016 o menor número de mortes em acidentes da sua história recente. Entre janeiro e novembro deste ano, salvaram-se 455 vidas em estradas e avenidas do Estado em comparação ao mesmo período de 2010 – queda de 23%. As informações são de Zero Hora.
Caso mantenha-se a média dos demais meses em dezembro, 2016 será o ano menos violento no tráfego desde que o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) começou a série histórica, em 2007. O resultado positivo ocorre mesmo diante do comportamento inverso da frota. Em seis anos, o número de veículos disparou 26%.
Há uma série de explicações para a queda na mortalidade, concordam autoridades e especialistas no tema. Isso porque se trata de um fenômeno influenciado pela combinação de fatores interligados, como a implementação de políticas de prevenção e o reforço na fiscalização. O fato é que o Rio Grande do Sul caminha na direção de cumprir a meta estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010: diminuir para metade, até 2020, os casos de acidentes viários.
Uma das causas da redução estaria na intensificação da Operação Balada Segura, acredita o diretor-geral do Detran, Ildo Mário Szinvelski.
Não por acaso, as blitze deram início à aplicação irrestrita do teste do bafômetro em 2011.
Alta nos preços de multas contribuiu
“Sem dúvida alguma, a intensificação da fiscalização e a punição de infratores contribuiu muito para o refreamento de condutas inadequadas. Isso muda comportamentos e pressupõe a consciência de que, para dirigir um veículo, o condutor precisa estar sóbrio e em condições para que não coloque em risco a sua vida e a dos demais”, analisa o dirigente.
Para Szinvelski, a mudança na legislação e o aumento nos valores de multas para quem dirige embriagado contribui para essa modificação de hábito entre motoristas. Hoje, mesmo quem se recusa a soprar o etilômetro paga multa de R$ 2,9 mil, tem a habilitação suspensa e o veículo recolhido. Desse modo, cada vez mais gente estaria escolhendo um transporte alternativo quando rende-se a um caneco de chope, por exemplo.
Entre os próprios amigos e familiares, especialistas têm constatado essa saudável conscientização. É o caso do professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, engenheiro de transporte. Na sua opinião, a Lei Seca influenciou, mas a redução de vítimas reflete a adoção de outras medidas, principalmente, de penalidades financeiras mais pesadas:
“As multas foram majoradas fortemente nos últimos meses. Essa, para mim, é a maior causa da redução de acidentes, porque as pessoas só atendem ao apelo do bolso”.
Um segundo item é a ampliação de ações de fiscalização, como o aumento de pardais e blitze, principalmente nos grandes centros, o que também produz algum resultado.
Desde o início de novembro, os valores cobrados de quem comete infrações sofreram reajustes superiores a 50% no país. O motorista flagrado manuseando o celular agora desembolsa multa de R$ 293,47 (antes era R$ 85,13), e o condutor que se desloca em velocidade 50% acima da permitida tem de pagar R$ 880,41 (saía por R$ 574,62).
Mas há quem seja menos otimista. Especialista em acidentes de trânsito, o perito Clóvis Santos Xerxenevsky considera a fiscalização escassa e as condições das vias ruins. Ele aponta outros coeficientes para o recuo do número de vítimas:
“A frota de veículos aumentou, mas, com a crise financeira que afeta a população há bastante tempo, será que as pessoas estão usando menos o carro? Na minha avaliação, a circulação reduziu”.
Maior redução ocorreu em ruas e avenidas municipaisNo cenário de redução de mortes no trânsito gaúcho, a queda mais expressiva deu-se em acidentes dentro dos municípios. Em 2010, 796 das fatalidades ocorreram em ruas e avenidas municipais. Neste ano, foram 533.
Diante do fenômeno, o destaque está em Porto Alegre – metrópole que, sozinha, concentra 13% da frota de veículos de todo o Estado. Há seis anos, a Capital registrava média de 12 mortes no trânsito a cada mês. Hoje, são oito.
O segundo maior município do Estado, Caxias do Sul, na Serra, também teve redução significativa no número de mortes no trânsito no intervalo dos últimos seis anos. Enquanto em todo o ano de 2010 o município havia registrado 67 vítimas fatais, entre janeiro e novembro de 2016 a quantidade de pessoas que perderam a vida em acidentes caiu para 33.
Diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari atribui a diminuição à formação de uma equipe interna que investiga as possíveis causas de acidentes graves na cidade. Desde 2011, o grupo trabalha para solucionar possíveis falhas estruturais.
“A equipe analisa o acidente e, através de entrevistas e outros protocolos, aponta a provável causa, não para um processo judicial, mas para o consumo interno. A partir daí, os técnicos disparam uma informação para o setor responsável da EPTC, seja engenharia de trânsito, fiscalização ou educação, para que se incida diretamente na causa geradora do acidente”, explica Cappellari.
Exemplos estão espalhados pela cidade. Recentemente, na Avenida Plínio Brasil Milano, foi instalada uma lombada eletrônica que limita a velocidade a 40 km/h nas proximidades com a Rua Carlos Trein Filho. Isso porque a EPTC vinha atendendo a uma série de acidentes no trecho, e o motivo seria justamente a pressa dos motoristas.
ZERO HORA