Moradora de Cruz Alta é a primeira paciente diagnosticada com a variante “Deltacron” no Brasil
Uma mulher de Cruz Alta, no noroeste do Estado, diagnosticada com covid-19 em fevereiro, é o primeiro caso notificado no Brasil de “deltacron”, nome informal dado à linhagem que recombina as variantes Delta e Ômicron do coronavírus. Significa dizer que a paciente foi infectada, simultaneamente, pelas duas cepas distintas do vírus, que interagem e misturam seus materiais genéticos. A descoberta é do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) da Secretaria Estadual da Saúde (SES), divulgada neste sábado (16).
Em março, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a anunciar a confirmação de duas ocorrências de “deltacron” como causadoras da doença em moradores do Amapá e do Pará, mas horas depois recuou.
A “deltacron” foi classificada como variante de monitoramento pela Organização Mundial da Saúde (OMS), categoria abaixo de variante de interesse ou de preocupação. Em geral, não há apreensão por parte de especialistas em relação a um possível potencial danoso da “deltacron”, identificada pela primeira vez na França, em janeiro deste ano. Recombinações são comuns, ocorrendo, especialmente, quando uma variante está tomando o lugar de outra em determinado território.
No caso de Cruz Alta, a amostra de secreção da paciente foi coletada em 11 de fevereiro. O sequenciamento genético foi realizado no Cevs com o uso da plataforma Illumina, parte da Rede Nacional de Sequenciamento Genético para Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Com a identificação da recombinação de variantes, a amostra foi encaminhada para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro (RJ), onde passou por nova avaliação. O segundo sequenciamento genético repetiu o resultado do primeiro: tratava-se, de fato, da “deltacron”.
Os serviços estadual e local de vigilância epidemiológica conduziram uma investigação do caso, não encontrando possíveis contatos da paciente. A mulher não tinha histórico de viagem. Questionada, a SES não respondeu sobre 0 atual estado de saúde da paciente.
Richard Steiner Salvato, especialista em Saúde do Cevs e integrante da Vigilância Genômica da instituição, afirma que a identificação dessa variante recombinante no Estado demonstra a importância do acompanhamento atento da evolução do vírus.
— No mundo, atualmente, temos cerca de cem casos de recombinação entre Delta e Ômicron reportados, e o caso identificado aqui possui mutações adicionais, o que não nos permite conhecer bem quais impactos essa recombinação traz ao comportamento do vírus. Agora, é imprescindível ampliar nossa vigilância, aumentando o número de amostras sequenciadas, para poder identificar, a tempo, qualquer mudança na velocidade de transmissão do vírus ou nas manifestações clínicas dos casos — destaca Salvato.
Existem três linhagens de “deltracron”: XD, XF e XS. A que foi encontrada no Estado é classificada como XS.
— Nossas análises demonstraram uma diferença significativa entre o genoma da variante XS detectado aqui no Rio Grande do Sul dos outros já reportados, todos nos Estados Unidos. Isso indica que essa recombinação provavelmente ocorreu aqui — acrescenta Salvato.
As informações são de GaúchaZH