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Saiba o que fazer em caso de picada de aranha-marrom

Saiba o que fazer em caso de picada de aranha-marrom
03.03.2025 10h03  /  Postado por: Reportagem

Casos de picada por aranha-marrom acendem um alerta sobre a importância de identificar os sinais da picada desta espécie, considerada uma das mais venenosas entre os aracnídeos. Pensando nisso, o Diário conversou com um especialista para explicar as principais características da aranha-marrom, onde ela vive e o que fazer em caso de contato com o veneno do animal.

A loxosceles, nome científico da aranha-marrom, é uma espécie pequena que pode medir até 3 cm de comprimento, incluindo corpo e patas. Além do marrom, sua coloração também pode apresentar tons alaranjados, com abdômen verde-oliva. Diferente das outras espécies, as aranhas-marrons produzem teias irregulares e grudentas, que se assemelham a fios de algodão.

O professor do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Tiago Gomes, explica que essa espécie prefere viver em regiões mais frias e pode ser encontrada com mais facilidade no sul do Brasil, sendo o Paraná o Estado com o maior número de casos registrados. No Rio Grande do Sul, as espécies Loxosceles intermedia, Loxosceles hirsuta e Loxosceles laeta são as mais comuns.

O especialista explica que a aranha-marrom tem hábitos noturnos e ficam ainda mais ativos no verão:

— De dia ela fica quietinha, escondida, e de noite ela tende a sair, se deslocar. É possível encontrar uma aranha-marrom deslocando à noite a procura de alimento ou também de parceiros, e nesta época do ano elas estão mais ativas. Com esse calor, todos os bichos estão mais ativos por essas duas razões — explica o biólogo.

Onde ela pode ser encontrada:

 

Dentro de casa

 

em armários, dentro de roupas ou sapatos;

atrás de quadros, móveis;

atrás do rodapé ou roda-forro;

dentro de caixas guardadas;

em objetos que têm pouco manuseio na casa.

Ambientes externos

​embaixo de folhas, telhas, tijolos, madeiras;

em depósitos, porões, e outros ambientes com pouca iluminação e movimentação.

Ainda segundo Gomes, espécie não é agressiva e geralmente pica quando comprimida contra o corpo.

— Considerando a frequência delas nas casas das pessoas, a gente até se espanta pelo baixo número de acidentes, e isso se dá pelo comportamento pouco agressivo que ela tem. Ela é muito arredia, fujona, ela não tem comportamento de enfrentamento. Então, muitas vezes a pessoa acaba convivendo com essas aranhas e nem percebe que elas estão ali, ainda mais que elas são pequeninhas. E os acidentes acontecem geralmente por compressão do indivíduo contra o nosso corpo, como quando a pessoa coloca uma roupa ou um sapato sem uso há muito tempo e onde o animal se alojou, ou quando está dormindo e “vira” por cima da aranha — conta Gomes.

O veneno da aranha-marrom é potente e pode provocar necrose, explica o especialista. De início, a picada da aranha-marrom não dói e os sintomas começam a aparecer depois de seis horas, podendo evoluir para casos mais graves em 72 horas – por isso é importante reconhecer os sinais de evolução da picada. Logo nas primeiras horas, inchaço e vermelhidão podem ser indícios da picada, que é mais frequente no tronco ou braços do ser humano.

Os pacientes afetados podem apresentar dois quadros chamados de: loxoscelismo cutâneo (o mais mais comum), e loxoscelismo cutâneo-visceral (menos frequente, mas mais perigoso).

Veja os sintomas:

Loxoscelismo cutâneo

inchaço e vermelhidão da área picada

pouca dor inicial;

após 24h, a lesão fica um pouco mais escura ao redor, com uma parte central mais pálida;

formação de bolhas;

febre;

quadro de necrose começa a aparecer, deixando a pele escura.

Loxoscelismo cutâneo-visceral

todos os sintomas acima;

aumento da lesão;

pele amarelada;

urina diminui e fica escura;

— No caso cutâneo-visceral, essa lesão vai degradando o tecido, e isso vai interagir com o próprio sangue do paciente, o que chamamos de hemólise, que é a destruição do tecido sanguíneo. Isso vai aparecer de forma evidente na urina. Então, nos casos mais graves, o paciente vai começar a ter a urina cada vez mais escura, chegando a um com a cor de café. Isso mostra então um quadro mais complicado do que aquele definido na pele.

O que vai determinar o tamanho da lesão depende de vários fatores, explica o especialista, como a quantidade de veneno injetado, o local que foi picado, fatores ligados ao próprio paciente e até mesmo a região anatômica onde a pessoa foi picada. Áreas como abdômen, nádega, coxa, que tem bastante tecido adiposo (gordura), podem apresentar lesões mais profundas.

Lavar o local com água e sabão pode ajudar a prevenir infecção secundária (quando bactérias oportunistas colonizam a lesão), aconselha Gomes. É recomendado também o uso de compressa de água morna, para redução da dor, se houver.

Tratamento

Segundo o biólogo, o recomendado é buscar atendimento médico caso seja picado por qualquer aranha. O tratamento nos quadros de picada por aranha marrom são feitos com um antiveneno que é o soro antiloxoscélico, que tem doses distribuídas de forma estratégica pelo Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), nos locais de maior risco.

Associado ao soro, o tratamento também conta com a administração de corticoides e analgésicos. Caso a lesão seja cometida por uma infecção causada por uma bactéria, também é indicado o uso de antibióticos. Geralmente, a pele necrosada é removida de forma cirúrgica.

— As lesões vão ficando cada vez mais profundas quando não há um tratamento adequado. Então, a cicatrização pode demorar, inclusive em casos mais graves, pode demorar meses para se cicatrizar, e alguns casos precisam de intervenção plástica. O que vai determinar se esse quadro vai se estender são vários fatores, como a quantidade de veneno injetado, o local picado, fatores ligados ao próprio indivíduo — explica.

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